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18 DE JUNHO DIA MUNDIAL DO ORGULHO AUTISTA

O dia 18 de junho passou, a partir deste ano, a ser comemorado como o Dia Mundial do Orgulho Autista. A iniciativa para a comemoração partiu da organização americana Aspies for Freedom. A cada ano o evento terá um tema novo. Neste primeiro ano do evento o tema foi "Aceitação, Não Cura". Em Seattle e Washington, nos Estados Unidos, o dia foi comemorado com uma parada. No Brasil, mais especificamente em Brasília, um grupo de pais, familiares e amigos de pessoas autistas aderiu ao movimento. O grupo mobilizou pessoas da sociedade civil e de órgãos públicos para levar informações sobre a síndromeà toda população.
"Este dia é uma celebração da neurodiversidade dos indivíduos do espectro autista, para promover o conceito de que aqueles identificados como autistas não sofrem de um mal patológico, assim como quem tem a pele escura não sofre de uma doença de pele", disse Fernando Cotta, pai de um filho autista e um dos organizadores do evento, em Brasília. Os defensores do Orgulho Autista acreditam que a noção de pureza racial, em termos de raça humana como um todo, permeia a ciência médica, a qual parece refletir uma crença de que todo o cérebro humano seria idêntico.
Participantes do Dia Mundial do Orgulho Autista 
De acordo com Cotta, os defensores do orgulho autista afirmam ainda que a noção de que haveria uma estrutura ideal e, por isso, desejável para o cérebro humano leva muitos praticantes da psiquiatria a assumir que qualquer desvio requer uma "cura" para conformar à norma neurotípica. "Acreditam que, no mínimo, deveria haver maior respeito para com os membros da comunidade autista como indivíduos únicos."
No Distrito Federal, os organizadores do evento receberam o apoio da Polícia Rodoviária Federal e do Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais para realizar as atividades. Pais e familiares de pessoas autistas passaram o dia entregando panfletos, informando e alertando a população sobre questões que envolvem o tema. "A intenção é educar o público em geral para acabar com a ignorânciapara com as questõesque envolvem a comunidade autista", avisa Cotta.
Fernando Cotta e a Presidente do Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais, Lídia da Mata 


Segundo os organizadores do evento de comemoraçãodo Dia Mundial do Orgulho Autista, o acontecimento foi um verdadeiro sucesso. Leia a seguir a entrevista que Fernando Cotta concedeu ao site Sentidos
Sentidos: De quem foi a iniciativa de comemorar o Dia do Orgulho Autista, em Brasília?
Cotta: Eu e minha esposa Adriana Cotta costumamos pesquisar com freqüência, assuntos que abordam a temática do autismo dentro e fora do nosso país. Numa dessas pesquisas, encontramos um grupo de pais de vários países da Europa e dos Estados Unidos que estavam realizando preparativos para o Dia Mundial do Orgulho Autista. Como não vimos nada semelhante no Brasil, mais especificamente, em Brasília resolvemos organizar o evento com a finalidade de divulgar para a sociedade parte da luta pela causa autista.
Sentidos: Vocês contaram com a ajuda de alguém para realizar o evento?
Cotta: Sim. Buscamos o apoio de alguns órgãos e pessoas da sociedade civil. A maioria era parente de crianças autistas de Brasília. Elas gostaram da idéia e também se empenharam para a realização do evento. Não consegui apoio de muitas entidades e órgãos públicos. Encontrei algumas portas fechadas, que no próximo ano lutarei para tentar abrí-las. Por outro lado, o Departamento de Polícia Rodoviária Federal abriu uma porta muito maior, colocando todos os policiais à nossa disposição. Outro apoio importante foi do Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais, que soube do evento um dia antes e providenciou uma série de protocolos de bastidores que propiciou maior conforto para nós, realizadores do evento. Ficamos muito gratos a presidente do Sindicato, Lídia da Mata. A ajuda da Polícia Militar do Distrito Federal, também foi de extrema importância.
Sentidos: Qual foi o resultado dessa mobilização? 
Cotta: Acredito que conseguimos atingir os nossos objetivos, que eram o de divulgar e alertar a sociedade brasileira sobre as questões que envolvem o autista. É fundamental a detecção do autismo o mais cedo possível, de preferência antes dos 18 meses de vida. O diagnóstico precoce possibilita o uso de terapias com melhores chances de se obter resultados positivos no desenvolvimento da criança com síndrome do autismo.
Os organizadores do evento entregam folhetos e orientam os motoristas sobre a síndrome do autismo

Sentidos: Como o autismo é abordado no Brasil?
Cotta: Infelizmente o Brasil não trata devidamente as questões ligadas ao autismo. Percebo isso com relação à prevenção, diagnóstico, tratamento e pesquisas. Lamentavelmente quem mais sofre são os mais pobres que ficam a mercê dos governos estaduais e o federal. Há pouco tempo ouvi falar de um autista que iria fazer uma lobotomia. A esta altura já deve ter feito. Esse fato é uma tristeza que carregarei nos ombros pelo resto de minha vida, por não poder fazer nada para ajudara família dessa pessoa com iformações corretas sobre o autismo. Muitas vezes nem o pediatra sabe diagnosticar o autismo. Inclusive, isso aconteceu com nossa família. Em países como os Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia e a maioria dos países desenvolvidos da Europa o autismo é muito mais discutido.
Sentidos: Como você espera que o Dia Mundial do Orgulho Autista seja consolidado nos próximos anos?
Cotta: Os defensores do Orgulho Autista lembram que a homossexualidade já foi classificada como uma forma de doença mental que poderia ser tratada medicamente com terapia hormonal de redução da libido. Só o movimento pelos direitos gays, buscando a meta da tolerância social com a diversidade de orientação sexual fez tal classificação se tornar obsoleta. Uma das mais constantes expressões desse movimento é "orgulho gay". O Dia do Orgulho Autista espera dar início ao mesmo processo de educação e ativismo, com as metas de promover os direitos humanos básicos dos autistas. Criar um lugar válido para a voz e os talentos desses indivíduos na sociedade moderna.