Psiquiatra desmente mitos sobre autismo e afirma: 'Atrasa o diagnóstico'
'Conversa' tratou de temas como inclusão escolar, importância do diagnóstico e mitos sobre o transtorno
OConversa com Bial desta quinta-feira, 3/5, promoveu um debate sobre autismo com convidados que, de alguma forma, estão ligados ao tema. Participaram do papo a arte-educadora e autista Amanda Paschoal, a psiquiatra infantil Raquel del Monde e o jornalista Luiz Fernando Vianna. Na plateia, pais de autistas e seus filhos acompanharam o papo e deram seus depoimentos sobre o assunto. Raquel fez um alerta sobre a falta de profissionais preparados para lidarem com o caso:
"Existe um déficit de formação na área médica. Inclusive das áreas que deveriam se dedicar à saúde mental".
"Ainda existe um contato muito superficial com autismo".
"Infelizmente a presença de mitos que se replicam entre os profissionais de saúde de maneira geral. Isso acaba atrasando o diagnóstico".
"Nosso maior desafio agora é a capacitação dos profissionais dessa área para diagnóstico e intervenção e na área da educação.
Importância do diagnóstico precoce
“O objetivo é detectar o mais precocemente possível para que se comece as intervenções porque aí a gente consegue aproveitar a plasticidade cerebral para que as crianças se desenvolvam mais".
"Em casos mais leves, que não tem atraso de fala - por exemplo-, esse diagnóstico está em torno de sete, oito anos".
Autismo não é doença
“Não falamos em cura para uma condição que não é uma doença”.
“É uma configuração cerebral, é uma condição do desenvolvimento. Ela se origina desde a formação inicial do sistema nervoso e acompanha o indivíduo pela vida toda".
Causa X Mitos
Graus de autismo
“Os graus se referem à questão de autonomia. A necessidade suporte de cada pessoa”, afirmou Raquel.
“Nível 1 seria uma pessoa que consegue morar sozinha e o nível 3 são pessoas que precisam de suporte até para necessidades mais básicas do dia a dia”, explicou Amanda.
Pais X Vergonha
"Autismo é uma deficiência invisível. Quando a criança tem sobrecarga sensorial, e ela grita e se joga no chão, as mães que estão de fora julgam essas famílias, acham que os filhos são mal educados. Os pais de autistas ficam constrangidos e se trancam dentro de casa", comentou a jornalistaAndrea Werner.
Inclusão escolar
Andrea Werner fez um apelo durante o programa:
"Temos uma inclusão escolar que não está acontecendo".
"A lei que diz que a criança que tem que ir preferencialmente para a escola regular. A lei diz que tem que ter uma moderadora. Cadê? O estado não dá e as escolas particulares, que são obrigadas a custear, não custeiam".
"É uma inclusão que não está acontecendo".
"Temos que começar do começo: criança na escola para aprender".
"Temos que ter pessoas capacitadas para ensinar da forma que essas crianças aprendem".
Lições de Amanda
"Autismo é uma parte fundamental de quem eu sou. Assim como eu sou brasileira, mulher, jovem, brasiliense...".
"Infelizmente, existe profissionais com a visão de que ter autismo signifca parar para sempre no desenvolvimento. Não é verdade! Vai melhorar, as crianças desenvolvem".
"Se a pessoa está com uma hiposensibilidade, ela não sente os braços. Então, ela balança para sentir que ele existe.
“Não é modificando a pessoa que vamos chegar num mundo mais inclusivo é fazendo a sociedade respeitar o que a gente é”.
Relato de um pai de autista
Luiz Fernando escreveu um livro chamado "O Menino Vadio e Seu Pai Estranho" para contar sua experiência com o filho, que atualmente tem 17 anos:
"Por ser jornalista, achei que a melhor maneira de falar da história era escrevendo. Achei que a historia do meu filho não poderia ficar restrita à minha família. Havia algo ali que poderia interessar a um número maior de pessoas".
"Na hora de escrever, achei que não fazia sentido em colocar meu filho como se fosse um objeto externo a mim. Eu tinha que falar de mim mesmo e como eu sou o estranho. Porque senão fica aquela coisa de 'meu filho é diferente'. Como se nós não tivéssemos nada a ver com isso'.